(Reprodução de trechos do depoimento de Milton Paiva, Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba. In: Concepção do educador e da universidade. João Pessoa: UFPb, 1988, p. 61-67)


           "Agestão de Durmeval Trigueiro Mendes à frente da Universidade Estadual da Paraíba - entre 1955 e 1956 - foi curta, mas eficiente e realizadora. Os dados que refiro, a esse respeito, são, ora do meu conhecimento pessoal, ora extraídos do depoimento prestado, em 1976, ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR) da Universidade Federal da Paraíba. 

          Durmeval Trigueiro não foi dos maiores entusiastas da iniciativa da criação da Universidade, naquela época; achava preferível, como sugeriu ao governador José Américo, que se fortalecessem as Faculdades existentes, notadamente a de Filosofia, Ciências e Letras, que funcionava desde 1952. Movia-o, nessa atitude, a preocupação com a carência dos recursos humanos e materiais para tal empreendimento. Convidado, entretanto, pelo governador a organizar a instituição, dedicou-se à tarefa com a seriedade que a missão exigia. 

          Foi, portanto, o seu principal organizador e, com a criação da Universidade Estadual da Paraíba, em 2 de dezembro de 1955, foi escolhido pelo Conselho Universitário para exercer o cargo de Reitor, sem prejuízo das suas atividades como Secretário de Estado de Educação e Cultura.

          Impressionado com a possibilidade de que a Universidade - várias outras se criavam, ao mesmo tempo, em outros Estados - fosse encarada, sobretudo, como a agência em que se conferem diplomas e em que se conquista a condição de elite, procurou afastá-la desse risco. Eis a sua declaração no depoimento ao NDIHR: "Daí a minha estratégia de enxertar sangue novo, mediante a incorporação de professores de fora da Paraíba, para serem debatidos o sentido da pesquisa, os temas a serem tratados, os problemas e objetivos da instituição". Na oportunidade da instalação da Universidade proferiu discurso "acentuando a percepção da Universidade, sua função, a problemática da cultura e da profissão, a questão do ensino e do seu componente de quantidade e qualidade". Tinha, também, receio de que se adotasse uma postura "cujo sentido retórico era de não mudar as coisas, mas repetir compêndios, operacionalizar sem mudar a substância das coisas".

          Várias iniciativas do reitorado de Durmeval Trigueiro decorreram dessas preocupações. Organizou ciclos de conferências, debates, seminários, tendo alguns deles como tema central a região, em que se tentava conciliar problemas nacionais com problemas regionais, não só considerando tópicos, mas o sistema geral 

          Outro aspecto importante do reitorado foi a decisão a respeito da localização do Campus Universitário, tendo sido convidado para colaborar nessa tarefa o conhecido engenheiro Horta Barbosa, autor do projeto do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

          Ao transmitir o cargo ao seu sucessor, ex-governador José Américo de Almeida, fez Durmeval Trigueiro longo discurso, publicado no jornal A União nos dias 23, 27 e 28 de dezembro de 1956. Nesse discurso reafirma as suas convicções de estudioso da educação e debate, com segurança e propriedade, alguns dos temas mais importantes ligados à Universidade e à sua problemática - já antecipando o domínio que mais tarde iria conquistar, com sua cultura e inteligência, sobre assuntos de tanta relevância e complexidade."

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