Totalitarismo

"Estamos voltando ao totalitarismo por via tecnocrática. E aqui também a história nos traz outra curiosa inversão: o totalitarismo do tipo nazista era uma agressão contra a razão, enquanto o de agora se apresenta como o totalitarismo da própria razão. Com mais uma nuança distintiva: o totalitarismo fascista ou o totalitarismo comunista soviético eliminam a diversidade, no plano político, enquanto o totalitarismo tecnocrático elimina todas as dimensões do real que não caibam na ratio técnica: ele opera fundamentalmente no plano ontológico e epistemológico. Só se pode admitir como bom e adequado o que pode ser justificado pela estreita e linear racionalidade técnica: o que desta venha a sobrar é, ainda assim, comprimido nessa bitola sob a alegação do que a metodologia neopositivista, que serve de esteio à tecnocracia, chama o rigor técnico. Claro que o totalitarismo fascista e o totalitarismo tecnocrático são, basicamente, ontológicos e políticos. Todos sabem que a burocracia e a tecnocracia são formas de dominação. O que pretendemos assinalar, com a distinção de duas formas de totalitarismo, é a linha específica dentro da qual evoluiu cada uma das duas tendências. Uma, baseada no intento de criar a história e a sociedade por um impulso dionisíaco (sobrepondo-se a vontade do poder à cultura e à razão), a outra negando a história e fazendo da sociedade o exercício impessoal da razão. Só que de uma forma unilinear da razão - a racionalidade técnica - que absorve a racionalidade política e a filosófica." (DTM, Tecnocracia e formas de poder, p.16-17)