Qualidade x Quantidade

"Parece-me que o reforço da educação reclamada pela sociedade tecnológica decorre não tanto de soluções aumentativas, mas, sobretudo, de soluções qualitativas. A meu ver, o enriquecimento desejado está sobretudo na apropriação dos grandes princípios e resultados da ciência moderna, ministrados segundo uma metodologia profundamente prática. Quando me refiro aos grandes princípios e resultados, não penso em seu refinamento, mas no nível de generalidade com que atingiram a cultura comum e os hábitos da vida cotidiana." (DTM, Educação complementar: análise da experiência, p.222)

  

"No Brasil, a nova 'eficiência' da educação ainda não conseguiu romper um horizonte tapado pelos preconceitos tradicionais. As elites das últimas décadas não assimilaram as exigências da nova sociedade, embora não possam tampouco embargá-las. Daí resolveram simplesmente superpor umas às outras. A educação franqueada a todos seria do mesmo tipo daquela que antes era dada, privilegiadamente, às elites, exatamente porque elas se constituíam como elites. A impossibilidade de uma harmonização gerou, entre a qualidade e a quantidade, rigorosamente, não a democratização da educação, mas o seu aviltamento generalizado, do qual as elites procuram salvar-se, tentando descobrir novos mecanismos seletivos. Em vez da difusão de bens consistentes, verifica-se um processo de esgarçamento, de perda de substância, ou de vigência de modelos arcaicos. Não podendo multiplicar o padrão-ouro, a expansão inflacionária vai operando com uma moeda aviltada." (DTM, Para um balanço da educação brasileira, p.91)

 

 "A meu ver, qualidade/quantidade significam a apropriação eficaz do conhecimento e da práxis, articulando, dialeticamente, as necessidades pessoais com as necessidades sociais na formação social e no regime político dentro de uma sociedade democrática. Eu acrescentaria o enunciado de Marx: 'A cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades'. Nesse contexto, a educação, a cultura e o trabalho individual e coletivo estão integrados na produção, no consumo e na distribuição dos bens materiais e simbólicos. Ora, a sociedade de classes no Brasil não tem condições de compor qualidade/quantidade com o projeto político e pedagógico nos termos aqui enunciados." (DTM, Subsídios para a concepção do educador, p.16-17)

 

 "O problema qualidade-quantidade se coloca portanto nesse debate educacional. Houve uma época, aqui como noutras partes do mundo, em que a qualidade da educação era tudo o que importava a uma elite que era sua beneficiária exclusiva. Com o acesso da massa à educação, inverte-se a tendência, passando a predominar a quantidade sobre a qualidade, tendo muitos fatores - psicológicos, sociais etc. - contribuído para assegurar essa prevalência do número." (DTM, Para um balanço da educação brasileira, p. 85-86)