Poder

"A fonte de poder na universidade é a vontade comum, expressa numa estrutura que exclui qualquer forma monárquica ou oligárquica de autoridade." (DTM, Governo da universidade, p.69)

  "O conceito de coesão universitária de tal forma foi distorcido no Brasil que se tornou normal a tensão conflituosa entre as autoridades e a comunidade acadêmica. Como se esses Poderes tivessem sentido um choque com a instituição. A vontade dos dirigentes passou a ser uma vontade política discriminatória, acessível à manobra, às parcialidades e à barganha. Simplesmente porque se esvaziou de sua representatividade e se tornou autônoma. Em vez da coesão harmônica das vontades, assistimos a uma estratégia de escaramuças em que o problema essencial está ausente." (DTM, Subsídios para o plano de reforma da UFBa, p.84)

  "A segunda característica da hierarquia universitária capaz de retirar desta a rigidez cesarista e o sentido de estratificação seria a rotatividade dos cargos a curto prazo. As duas coisas são correlatas, o conteúdo cesarista do poder e a tendência à sua perpetuação. Quando ele se entrega ao seu mecanismo próprio, exercendo-se como vontade do poder, imediatamente se torna incapaz de autolimitar-se. O poder só é limitado de fora, por um valor a serviço do qual ele se coloque. Isto significa que o único freio à sua vocação cesarista está em opor-lhe a vocação ministerial, no sentido filosófico dessa palavra. Ora, tais são as características da universidade, que nela o sentido ministerial deve ser mais completo que em qualquer outra instituição. Daí a conveniência da rotatividade constante dos cargos de direção universitária: assim como a vontade do poder pede continuísmo, o continuísmo estimula a vontade do poder." (DTM, Subsídios para o plano de reforma da UFBa, p.83-84)

 "Vimos advogando, ao longo destas páginas, que o poder na universidade seja, em essência, o poder decorrente de suas postulações acadêmicas. Na medida em que as autoridades se mantenham dentro de tal linha, terão legitimada a sua força, que é apenas de representatividade e de ministerialidade. Em suma, o que dá figura aos Poderes da universidade é a objetividade. Em todos os outros campos da sociedade, a objetividade que vincula o poder aos seus interesses reais, dela, se embebe de outras motivações mais ou menos da ordem do arbítrio, do jogo político, da gratuidade e do cesarismo; ou se articula a esquemas que resultam de uma certa inspiração ou decisão autônoma dos governantes. Na universidade essa margem de gratuidade é mínima; a objetividade assenhoreia-se completamente da área do poder. Pois aí são ilegítimas a opinião, a graça, a paixão - a figura do Príncipe. Tudo porque o campo da universidade é o campo da verdade - e só ela tem títulos suficientes para imperar. Esta, a mais alta das originalidades dessa instituição, uma vez que só ela, como a mais nobre das invenções humanas, é na sociedade a instituição do espírito. E da completa liberdade. A sociedade que se sobrepõe à sociedade, o único poder temporal que se sobrepõe ao Estado. Como projeção, afinal de contas, das prerrogativas essenciais da pessoa humana." (DTM, Subsídios para o plano de reforma da UFBa, p.88)