Pedagogia

"A meu ver, a Pedagogia não se salva sem a volta, não direi a Sócrates, mas ao método que ele iniciou, de bravo e singelo respeito à verdade do homem e do seu logos. A confiança na sua criação. A confiança em que, de sua originalidade, o mundo se enriquece, desde o pequeno círculo da escola até o maior, da Nação, e o amplíssimo, da humanidade. Começa na escola: pois, de resto, se não se confia no ser criador do aluno, como se poderia esperar da atitude do cidadão e do profissional uma contribuição ativa à vida social e à atividade pública?" (DTM, A universidade e sua utopia, p. 227)

  

"O vínculo pedagógico é apenas isso - uma conversatio entre dois logos; de um a outro, o tempo da germinação. Um propõe, o outro acolhe, e ao devolver o que lhe foi proposto, a resposta será a recusa, pela proposição de outro verbo, ou a adesão, na qual o verbo de quem recebeu se integra - enriquecendo-o - no verbo de quem deu." (DTM, A universidade e sua utopia, p. 229)

 

 "A pedagogia só tem especificidade própria como método de coordenar e aplicar saberes que a transcendem. Substancializar a pedagogia representa uma tentativa falaciosa e funesta. Graças a essa ilusão, perdura e se amplia o equívoco da educação alienada - tanto mais sofisticada quanto mais inócua (e por isso mesmo). As reformas educacionais se elaboram numa proveta pedagógica, sem a matéria do magma social." (DTM, Indicações para uma política da pesquisa da educação no Brasil, p. 488)

  

"Jamais o verdadeiro método pedagógico pode reduzir-se a esse simples jogo mecânico de ações e reações que predomina em nossas universidades. Aulas apressadas, respostas apressadas, provas apressadas. Não há tempo para pensar; nem para que o diálogo seja articulado entre professores e alunos. Como florescer o logos do discípulo, sem a solidão das horas de estudo e sem o estímulo da conversatio? E o do mestre também se enfraquece, pela simples razão de que a conversatio lhe é igualmente necessária, a ele - e sem os novos horizontes que o contato com os alunos lhe oferece, o seu verbo perde os estímulos que poderiam lançá-lo não só para fora de si, como também para além de seu tempo. A aula magistral, um verbo torrencialmente lançado da cátedra (que é muito mais um gesto mental que o cargo há pouco suprimido) - um verbo, repito, que não se articula, em nenhum momento, com o do aluno; esse método retórico, esse esforço unilateral, denunciam duas coisas: 1º) que não se trata propriamente do verbo, mas da verbosidade, que está para aquele como a folha para o fruto; e 2º) que não há confiança na criatividade do estudante. Pois este é parte essencial do diálogo, sendo o seu logos próprio que instaura a sua própria cultura, dando forma à sua experiência. Tudo que lhe for ensinado, ou não será apreendido, ou o será pelo modo de sua irredutível originalidade." (DTM, A universidade e sua utopia, p. 229)

  

"Precisamos revolver a didática, substituindo o método que institucionaliza a indução professor-aluno pelo método que promove o encontro dos dois no espaço da consciência interrogativa. Veremos que a interrogação é freqüentemente vigorosa nos jovens porque sobre eles não se acumulou ainda a poeira das capitulações; o jovem é bravamente fiel ao universo que ele cria. Para reflorescer a árvore da civilização, só a enxertia das suas inquirições cheias de radicalidade e originalidade na velha cepa ameaçada de apodrecer. Veremos que temos tanto de aprender com a pergunta das crianças e dos jovens, quanto eles, com as nossas respostas. Terminamos nós próprios perguntando mais que respondendo, e isto é a vitória final da juventude, de sua audaciosa ignorância, expressão apenas de sua procura confiante e enérgica do futuro." (DTM, Realidade, experiência, criação, p. 231)

 

 "A revolução da chamada 'escola nova' consistia em ligar escola e vida, educação e sociedade, antecipando na primeira as experiências realmente vividas na segunda. Mas não chegou a criar o tempo simultâneo da educação e da sociedade - pedagógico e sociológico. Por isso mesmo, a experiência não era realmente vivida. A anterioridade representava até certo ponto um artifício. Havia sempre a necessidade de se preparar para a vida, a anterioridade de uma em relação à outra." (DTM, Para uma filosofia da educação fundamental e média, p.96)