Ensino de filosofia

"... imaginamos que o problema maior não é o de ensinar filosofia, mas o de despertar o espírito filosófico, por intermédio de uma disciplina formal, ou não, embora eu creia que, no caso brasileiro, conviria que essa disciplina aparecesse dentro de um contexto capaz de ativar-lhe todas as virtualidades." (DTM, Reflexões sobre o ensino de filosofia, p. 23)

 

 "O diálogo filosófico não tem nada da resposta em cima da pergunta, como na Física, a reação em cima do estímulo vindo de fora. O estímulo do aluno vem de dentro dele próprio." (DTM, Reflexões sobre o ensino da filosofia, p.25)

 

 "... creio que é preciso evitar o professor de filosofia como aquele que fez a reificação verbal da filosofia. Aquele que fala sobre a filosofia, mas não a faz, como o professor de piano que ensina falando e não tocando. Só é capaz de ensinar filosofia quem é filósofo. Não se trata, no caso, de ser grande ou pequeno filósofo, como de um pianista não se exige que seja necessariamente Liszt, Brahms ou Chopin. Importa que ele tenha a intuição adequada do problema filosófico e trabalhe artesanalmente sobre ele. Que ele trabalhe criadoramente, reinaugurando as questões - em vez de reproduzi-las de um compêndio, seja porque ele pensa a res nova - os novos problemas do mundo e da cultura, em vez de reiterar, indefinidamente, os antigos problemas, seja, sobretudo - pois isto é a fonte de tudo - que ele restabeleça o contato com o real, por uma aventura de sua própria consciência interrogativa, e não para que ela integre o dado imediato, no sentido bergsoniano, com o conteúdo de sua própria consciência." (DTM, Reflexões sobre o ensino da filosofia, p. 23-24)

  

"Acredito que a necessidade da filosofia na escola média decorre, antes de tudo, de um postulado político. Se eu dou a um adolescente um instrumento de trabalho - a sua profissionalização - e lhe nego um instrumento pelo qual ele possa adquirir a consciência de si mesmo e do mundo - uma consciência que é o instrumento de seu projeto e de sua promoção, em conjunto com o projeto social em que ele venha a inserir-se, criadoramente, então eu estarei formando mão-de-obra, e não seres livres para uma sociedade aberta." (DTM, Reflexões sobre o ensino da filosofia, p.20)