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o longo de seu itinerário como educador e homem público, a atuação de Durmeval Trigueiro esteve sempre marcada pela independência diante de interesses de grupos ou do poder hegemônico. O interesse público da sociedade como um todo é que norteou seus pronunciamentos, estudos e os pareceres no Conselho Federal de Educação. Não seria, portanto, de surpreender sua atitude quando, em 1969, ressurgia pela terceira vez, no Conselho, o problema da Educação Moral e Cívica. Em entrevista à Revista ANDE, Durmeval relata: "um aviso do Ministro da Guerra, Costa e Silva, para o Ministro da Educação, propunha que essa disciplina fosse incluída no currículo, e o Ministro enviou ofício ao Conselho. Os conselheiros consideravam essenciais a moral e o civismo, obviamente, mas a maioria recusava a inclusão no currículo, como disciplina, já que moral e civismo permeiam diferentes disciplinas, com teor crítico, vinculadas com o âmbito cultural, a família, as escolas, as instituições, etc. E, nesse momento, ponderei que tal disciplina seria reificada. O CFE não aprovou essa iniciativa do Governo. Depois, outro Ministro do Exército reiterou a mesma proposta: novamente o CFE fixou, com clareza, os mesmos argumentos. Finalmente, em 1969, aconteceu, melancolicamente, o desfecho do problema. O CFE capitulou frente ao poder, materializado pela presença intimidadora de militares fardados assistindo à sessão plenária do Conselho. O Presidente procedeu à votação, e todos os conselheiros votaram favoravelmente à inserção, no currículo, da disciplina Moral e Cívica. Todos, menos eu."*

          Uma semana depois, Durmeval tomava conhecimento, pela televisão, do decreto de 28 de agosto de 1969 que o afastava, com base no AI-5, dos cargos que ocupava "na administração direta e indireta da União, Estados, Distrito Federal, Territórios ou Municípios".

          Lamentavelmente, em consulta feita à documentação histórica do Conselho Federal de Educação, em Brasília, verificou-se que as atas das reuniões efetuadas na década de 60 foram curiosamente extraviadas, de modo que se tornou inviável identificar, com o necessário rigor, todo o desenrolar das sessões em que a proposta da introdução da disciplina Educação Moral e Cívica nos três graus de ensino foi debatida e afinal aprovada.

(* Extraído de "O Autor". In: Durmeval Trigueiro Mendes - Filosofia política da educação brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Universitária José Bonifácio / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990, p. 197-198)

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